A avaliação é do médico Miguel Nicolelis, professor de Neurociência da Universidade de Duke, nos Estados Unidos.
Nicolelis coordenou por dez meses o comitê científico de combate ao vírus do consórcio de governos do Nordeste, mas, desde fevereiro, atua de forma independente.
Ele defende em entrevista à BBC News Brasil que alguma medida legal seja tomada para impedir a realização da competição aqui e, caso ela venha ocorrer mesmo assim, que a população boicote o evento.
‘Viramos o escoadouro do lixo do planeta’
Nicolelis diz que, ao saber no domingo (30/05) que a Argentina não seria mais a sede do torneio de futebol por causa da piora da pandemia no país, chegou a comentar para amigos que “o Brasil seria a bola da vez”.
“Eu estava brincando… mal sabia eu”, afirma Nicolelis.
Na manhã de segunda-feira, a Confederação Sul-americana de Futebol (Conmebol) anunciou a transferência da Copa América para o Brasil.
“Isso é um chute na boca dos brasileiros que perderam familiares, de todos nós que estamos há 14 meses em quarentena em casa. Mas era previsível.”, diz Nicolelis.
“Nós viramos o escoadouro do lixo do planeta. Tudo que não deve ser feito em questão de pandemia está sendo feito aqui. Essa notícia já correu o mundo, e ninguém consegue acreditar que o segundo país em número de mortes vai sediar um evento continental.”
Originalmente, a Copa América teria duas sedes – Argentina e Colômbia. Mas a Conmebol anunciou em 20 de maio que não haveria mais jogos na Colômbia por causa da série de protestos contra o governo do país, que têm sido violentamente reprimidos.
A segunda sede, a Argentina, enfrenta “o pior momento da pandemia”, segundo palavras do próprio presidente Alberto Fernández. Pesquisas apontavam que a maioria da população era contra a realização da Copa América.
A Conmebol disse que, após ser tomada a decisão de que o país não sediaria mais o torneio, procurou o governo brasileiro por meio do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) “imediatamente apoiou a iniciativa, com a aprovação dos Ministérios da Casa Civil, da Saúde, das Relações Exteriores e da Secretaria Nacional do Esporte”, disse a Conmebol.
“E o Brasil aceitou o pepino instantaneamente. Para responder à Pfizer, precisa de vários emails. Para responder à Conmebol, basta um telefonema”, ironiza Nicolelis, fazendo referência à postura do governo Bolsonaro diante das várias ofertas de vacinas contra a covid-19 feitas pela farmacêutica.
“É uma tentativa de esconder a pandemia, de mostrar que está tudo normal o suficiente para fazer um evento como esse”, avalia o neurocientista.