Órfão de pai e mãe, foi para Lisboa para a casa de um tio clérigo, de onde teria emigrado para a Holanda com apenas 14 anos. Daí partiu para Malaca, recentemente conquistada pelos holandeses em 1641, onde permaneceu por alguns anos, tendo casado com a filha de um pastor calvinista.
Em Malaca, Almeida renunciou à religião católica e abraçou a fé reformada depois de ter lido um panfleto espanhol anticatólico que veio a traduzir para o português, intitulado “Differença da Christandade”. Este livro apresentava a divergência entre o catolicismo romano e o protestantismo.
Em 1644, com apenas 16 anos, Almeida traduziu os Atos dos Apóstolos do espanhol para português, que eram copiados à mão e distribuídos nas comunidades portuguesas. Em 1645 a tradução do Novo Testamento foi concluída, mas somente publicada em 1681, em Amesterdã.
João Ferreira de Almeida visitava doentes em Malaca e, mais tarde, em Batávia, percorrendo diariamente hospitais e casas de doentes, dando apoio espiritual com orações e exortações. Parece ter sido Batávia o centro das suas atividades religiosas. Ali ingressou na Igreja Protestante Portuguesa (que existiu entre 1633 e 1808) e, em 1656, foi ordenado ministro pregador.
De 1656 a 1663, Almeida pregou em várias línguas na ilha de Ceilão (Colombo, Porto de Gale, etc) e nas costas Indostânicas (Coromandel, Malabar), difundindo em especial a língua portuguesa. Em 1663, voltou à Batávia, onde veio a falecer em 1691.
Almeida escreveu várias obras, mas o que mais o notabilizou foi a tradução da Bíblia para a língua portuguesa. Começou a traduzir a Bíblia pelo Novo Testamento, que foi publicado durante sua vida, em Amsterdã, e impressa pela viúva de J. V. Someren. Esta edição apresentava muitas incorreções devido à incompetência dos revisores, de que o próprio Almeida se queixou numa Advertência, com um apêndice de mais de mil erros, publicada em 1683.
Perante estas informações, os Diretores da Companhia da Índia Oriental determinaram que fossem destruídos todos os exemplares na Holanda e em Batávia, tendo, no entanto, sido poupadas algumas cópias distribuídas às congregações de Batávia, Malaca e Ceilão, apresentando correções a tinta. Para além do exemplar existente na Biblioteca Nacional, temos conhecimento de outra espécie, na British Library.
Saiu do prelo a segunda edição do Novo Testamento, impressa em Batávia por João de Vries, em 1693, dois anos após a morte do tradutor. A Companhia das Índias Orientais, em colaboração com a igreja estabelecida naquela ilha, diligenciou para que os missionários Theodorus Zas e Jacobus op den Akker procedessem à revisão e conferissem a tradução de João Ferreira de Almeida com a Vulgata.
Quanto ao Antigo Testamento, Almeida só concluiu a tradução até Ezequiel, tendo o restante sido continuado por Jacobus op den Akker, em 1694, que só veio a ser impresso em Batávia, em dois volumes, em 1748 e 1753.
Seguiram-se muitas outras edições parciais e totais, impressas em Batávia, Trangambar, Londres, Nova Iorque e Lisboa. As traduções foram feitas com o auxílio da versão holandesa do Sínodo de Dort (1618) e da castelhana de Cipriano de Valera (1602).
João Ferreira de Almeida teve o grande mérito de passar toda a vida debruçado sobre a Bíblia, e só a morte o afastou dessa notável missão. Almeida zelou para manter as comunidades evangélicas portuguesas nos lugares do Império Português das Índias, que os holandeses iam ocupando, e defendeu que fossem divulgados livros em português a essas comunidades.
Fonte: Biblioteca Nacional Tesouros